OS RETRATOS NO ACERVO DO MUSEU PAULISTA 

O Museu Paulista-USP tem um acervo expressivo de retratos produzidos em diferentes técnicas, materiais e formatos. O acervo de retratos foi formado ao longo dos últimos 100 do Museu e reúne tanto retratos de pessoas célebres e das elites brasileiras quanto retratos de anônimos, formando um quadro diverso das práticas de se retratar em nossa sociedade.

UMA BREVE HISTÓRIA DOS RETRATOS 

O retrato é por definição a representação de uma figura só ou em grupo, produzida a partir de um modelo vivo ou documentos que ajudem a elaborar a imagem do retratado. É um gênero que comporta diversos suportes, podendo se ter retratos em forma de escultura, pintura e fotografia. Existente desde a época da antiguidade, como no Egito e na Grécia, os retratos se tornam um gênero autônomo no século 14. A produção dos retratos estava muito ligada aos anseios da corte, e posteriormente da burguesia, em projetar suas imagens na vida pública e privada. É no século 19, com o desenvolvimento de técnicas fotográficas, que os retratos começam a se popularizar. Tornam-se, então, objetos da modernidade oitocentista e atendiam ao desejo de distinção de segmentos sociais antes alijados de meios de obter uma representação visual de si.

APRESENTAÇÃO PÚBLICA DO SUJEITO 

O retrato se constitui como uma forma de representação do sujeito a ser eternizada na sociedade e que pode circular sem a sua presença física por diversos lugares. Por isso, todos os elementos que o compõe são controlados para a produção de uma identidade social e pública – a pose, a indumentária, o cenário. Esse controle dos elementos e da composição formal dos retratos tem longa tradição na pintura à óleo de aristocratas, reis e rainhas europeus. No Museu, essa tradição é evidente na representação dos bandeirantes, como por exemplo na pintura de Domingos Jorge Velho, de autoria de Benedito Calixto, que pode ser vista na exposição Passados Imaginados (sob a curadoria de Paulo César Garcez Marins), no Museu do Ipiranga.     

Na produção de retratos fotográficos produzidos em estúdios é possível identificar poses semelhantes, sobretudo nos retratos masculinos, que disseminam padrões de representações típicas da retratística na pintura.

O CORPO EM POSE 

Na coleção de retratos fotográficos de Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905), percebe-se que a restritiva distinção de gênero naquele período era produzida e reforçada neste suporte também, as imagens dos retratos masculinos mostram uma maior riqueza de posturas corporais enquanto os corpos femininos estão quase sempre em poses rígidas, em prontidão. 

O POTENCIAL DOS ESTUDOS COM RETRATOS FOTOGRÁFICOS

Na busca pela criação de identidades por meio dos retratos fotográficos, o uso de artefatos para a produção de características individuais e sociais foi de extrema importância. Uma análise dos cenários fotográficos, dos objetos e das vestimentas usadas pelos retratados permitem compreender gostos e formas de distinções entre grupos sociais. Para além de práticas concretas, a experiência nos ateliês fotográficos decorados com ícones do refinamento da burguesia, possibilitou para parte da população sonhar com uma vida diferente. Os estudos com retratos possibilitam compreender a sociedade que o produziu. 


Para Saber Mais

Marins, Paulo César Garcez. Nas matas com pose de reis: a representação de bandeirantes e a
tradição da retratística monárquica européia . Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, (44),
77-104, 2007.
https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i44p77-104

CARVALHO, Vânia Carneiro de LIMA, Solange Ferraz de;. Cultura visual e
curadoria em museus de história. Estudos Ibero-Americanos, Rio Grande do Sul, v.
31, n. 2, p. 53-77, 2005.
https://doi.org/10.15448/1980-864X.2005.2.1338

curadoria por:

Guilherme Domingues Gonçales

Guilherme Domingues Gonçales é historiador formado pela UnB, mestre em História Social pela
FFLCH-USP. É autor do livro Mulheres engravatadas: moda e comportamento feminino no
Brasil,1851-1911. São Paulo: Editora Intermeios,2020. guilhermegoncales@gmail.com.

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