Curadoria em museus universitários

O termo curadoria é hoje adotado em muitas frentes de trabalho. Geralmente, para designar um tipo de trabalho que implica selecionar, de forma criativa, itens para uma narrativa ou projeto final. Assim, já se fala de curadoria gastronômica, para qualificar as escolhas de um chef para um jantar ou uma temporada de gastronomia; ou curadoria de textos, para uma coletânea de artigos em um livro. O significado mais corrente e conhecido é, no entanto, a noção de curadoria atrelada ao trabalho de seleção de obras e itens de um museu ou de um artista ou conjunto de artistas representado por uma galeria para uma exposição.

Nos grandes museus, e especialmente nos museus universitários, como é o caso do Museu Paulista, o termo curadoria alcança um significado mais amplo, relacionado a um modo próprio de gestão de acervos. Ou seja, curadoria não se restringe aos produtos de comunicação em museus, como exposições, sejam elas físicas ou digitais, mas abrange também a coleta, a documentação e a conservação dos objetos que se tornam itens de um acervo museológico. Significa, portanto, uma cadeia de atividades e uma rede de profissionais de diferentes áreas, mobilizados em torno de um acervo de coisas materiais.

Nos museus universitários, essa cadeia de atividades é ativada nas ações de pesquisa, ensino e extensão. Isso significa que todas as etapas do ciclo de musealização de um objeto ou conjunto de objetos podem motivar ou serem resultado de projetos de pesquisa, e servem como plataforma de ensino e orientação didática e acadêmica, além de cumprir as já mais conhecidas funções de extensão à comunidade.  Assim, o estudo de coleções em museus universitários favorece uma forma particular de difusão do conhecimento produzido academicamente. Pois a perspectiva de ciclo curatorial pressupõe uma dinâmica não linear para as tarefas de cada etapa, sempre aberta às modificações trazidas pelas reflexões gestadas em salas de aula, nos estágios, e grupos de pesquisa. É, portanto, uma predisposição fomentada pela missão institucional mais ampla da universidade.

É essa noção múltipla e potente de curadoria que vem sendo discutida, já há algum tempo, nos quatro museus integrados à USP – Museu de Arte Contemporânea (MAC), Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), Museu Paulista (MP) e Museu de Zoologia (MZ). Com trajetórias e acervos distintos, os quatro museus compartilham premissas análogas da prática curatorial e usufruem das inúmeras possibilidades que a universidade oferece para ações transversais de pesquisa, ensino e inovação.  O Projeto Temático FAPESP Coletar, identificar, processar, difundir. O ciclo curatorial e a produção de conhecimento, sediado no MAC-USP sob a coordenação da Profa. Dra. Ana Magalhães vem explorando essas possibilidades transversais, e representa um importante reconhecimento da importância dos museus nas universidades. Além dos quatro museus da USP, o projeto conta com a participação do Instituto de Física da USP e do Centro de Memória da Unicamp (Projeto Temático FAPESP, processo 17/07366-1). O projeto reúne 12 docentes além de mestrandos, doutorandos e pós doutorandos e está estruturado a partir de estudos de caso que abordam, cada um, uma etapa do ciclo curatorial.

Em 2021, foi publicado o dossiê Curadoria em museus universitários, que conta com artigos dos pesquisadores sobre as especificidades da curadoria em cada museu, comentados por especialistas. O dossiê é resultado das reflexões gestadas no grupo de pesquisa ao longo dos dois primeiros anos de vigência do Projeto Temático.

Para conhecer um pouco mais sobre as pesquisadoras e os pesquisadores do projeto visite: https://sites.usp.br/ciclocuratorial/.

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